Nos cansamos de ouvir que todo empreendedor precisa ter um plano de negócios antes de começar qualquer atividade. É uma bela teoria, mas nem sempre é praticada. Sabemos que muitas pessoas estão empreendendo não por vocação, mas por necessidade. A mudança nas relações de trabalho, os empregos cada vez mais escassos e a “economia de espasmos” estimula o surgimento de empreendedores em todas as áreas. No entanto, a maioria que se aventuram no mundo do empreendedorismo não sabe onde está se metendo, e isso, infelizmente, aumenta muito a possibilidade de fracasso e perda da reserva financeira.
Mas o que fazer com a angústia de quem perdeu o emprego ou não consegue uma colocação? Não se trata de abrir mão dos sonhos ou metas, mas sim de investir, organizar o tempo, organizar e elaborar estratégias. Mesmo que muitos não percebam, sempre existe um planejamento, seja ele consciente e estruturado ou inconsciente e caótico. E o que é melhor? Estruturar as suas ações ou seguir aquela intuição nebulosa que fica apenas na cabeça, quase sempre confusa?
O famoso “jeitinho brasileiro”, uma herança cultural perpetuada no Brasil até os dias de hoje, nos faz acreditar que somos bons no improviso. Acreditamos tanto nisso que acabamos ficando míopes. Podemos até sermos bons no improviso, mas, apesar de ser uma condição necessária para o sucesso profissional, é insuficiente. Independente de onde se quer chegar, os processos de decidir, planejar, mensurar e, principalmente, ter um rumo certo para seguir, continuam sendo as melhores alternativas para obter sucesso.
Vamos definir sucesso aqui como “atingir uma meta complexa”. É claro que a complexidade de algo depende muito de cada um, pode ser abrir uma empresa, lançar um produto, mudar de carreira ou até mesmo ter um desafio físico, como conseguir realizar uma maratona. Um empreendedor e um corredor de rua, por exemplo, se assemelham muito. Precisam encontrar tempo e recursos para cruzar a linha de chegada que estabeleceram. Há 7 anos adotei a corrida como forma de me manter saudável e treinar foco e disciplina. Pouco tempo atrás, quando pensei em correr a ultramaratona TTT (Travessia Torres Tramandaí) conhecida como a prova mais “casca grossa” do sul do país, com 82 km na areia em pleno verão, sabia que precisaria transformar o pensamento em ação e, para isso, o primeiro passo seria, genuinamente, decidir. E para tomar uma decisão que fosse consciente, precisaria enxergar o que representaria correr tantos quilômetros.
Minha primeira atitude foi migrar ensinamentos do mundo corporativo para o esporte. E, assim, utilizei a ferramenta 5W 2H para analisar de forma estruturada e depois decidir. Armada de papel e caneta, fui respondendo:5 W: What (o que será feito?) – Why (por que será feito?) – Where (onde será feito?) – When (quando?) – Who (por quem será feito?). 2H: How (como será feito?) – How much (quanto vai custar?)
Talvez haja quem ache chato fazer isso e prefira calçar o tênis e sair correndo. Mas isso vai influenciar diretamente no resultado que deseja atingir. Chegou a hora de melhorarmos nosso desempenho naquilo que nos propomos fazer. Pois bem, fiz um planejamento, treinei duro por oito meses e apesar dos imprevistos, conclui a prova com muito mais sucesso que esperava, com direito a pódio em 1º lugar na minha categoria. O que aprendi? Muitas lições e diversos ganhos como a ampliação da força mental, aumento da autoconfiança, diminuição da auto sabotagem. Além disso, ratifiquei que planejamento funciona sim e que a corrida também pode transmitir ensinamentos para os empreendedores. Como? Refletindo sobre as etapas abaixo e analisando os resultados:
- Decisão: do sonho ao planejamento;
- Treino: o exercício da força de vontade e a superação;
- Equipe: mesmo que faça solo, você não está sozinho;
- Mente: como superar crenças limitantes e evitar a escalada irracional;
- Corpo: a saúde e o limite de cada um;
- Apoio: escolha bem seus parceiros de jornada;
- Prova: hora de continuar x momento de desistir;
- Resultado: momento de analisar os próximos passos e reiniciar o ciclo.
Planejar não tira ou diminui a emoção, ao contrário, fortalece a decisão e aproxima da conquista. Então foco no planejamento consciente e cruze a sua próxima linha de chegada.
Por Márcia Tolotti